Entidade entra com petição para esclarecer os impactos da usina do rio Madeira
paula.peirao@amazonia.org.br
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O Instituto Madeira Vivo (IMV), uma organização de Rondônia que atua em defesa do rio Madeira, entrou recentemente com uma petição para prestar esclarecimentos sobre a usina hidrelétrica de Santo Antônio, no rio Madeira.
Trata-se de uma petição chamada Amicus Curiae, ou Amigo da Corte, na tradução do latim. Ela é uma figura jurídica surgida na tradição anglo-saxã, e que recentemente tem sido aceita na jurisdição brasileira.
A petição, que foi oficialmente entregue no dia 15 de dezembro e ainda aguarda apreciação do juiz, permite a terceiros interessados em uma controvérsia jurídica fazer considerações em ações que tenham relevância social, como na área de direitos humanos ou meio ambiente.
De acordo com a advogada Fernanda Venzon , que coordenou a redação da petição, o Instituto Madeira Vivo pede ao juiz a participação na Ação Civil Pública proposta pelas organizações Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, Associação de Defesa Etno-ambiental Kanindé e Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), em junho de 2009 contra a construção da usina de Santo Antônio.
"A ação foi promovida por organizações civis contra o governo e o consórcio. Mas o Amicus Curiae não está defendendo nem uma parte, nem outra. Ele defende os interesses sociais e ambientais que estão em jogo nessa questão. Ele serve para mostrar ao juiz que tem mais coisas a serem vistas, principalmente na questão de direitos humanos".
Direitos Humanos
A contribuição do IMV para a ação levanta problemas na construção da usina de Santo Antônio que resultam em danos às populações afetadas. O texto, por exemplo, questiona o tratamento dado pelos empreendedores e governo aos povos indígenas, já que o licenciamento "deixou desprotegidos os povos indígenas isolados, sobre os quais não há sequer estudos de impacto ambiental, pese a que a obras já começaram, o que os põe em situação de extrema vulnerabilidade".
Além disso, Fernanda ressalta que não foram feitas consultas às populações afetadas no Brasil, muito menos na Bolívia. "Os impactos na Bolívia praticamente sumiram dos estudos!". Segundo o Amicus Curiae, as populações devem ser consultadas, pois elas têm "uma relação profunda com suas terras e recursos naturais. Devido a esta relação, seus direitos humanos fundamentais estão estreitamente vinculados com o bem-estar de suas terras e recursos naturais, o que os deixa vulneráveis quando alguma atividade impacta negativamente o ambiente do qual dependem".
O texto mostra que existem diversos problemas nos estudos e no tratamento dado aos povos indígenas impactados. Por exemplo, as comunidades localizadas à jusante dos empreendimentos foram desconsideradas nos estudos, não foi dada a devida importância à presença de povos isolados na área de influência das usinas e as medidas tomadas são "insuficientes para compensar ou mitigar os impactos".
O documento também levanta falhas no processo de licenciamento ambiental, como a pressão para aprovar as usinas e a arbitrariedade na concessão das licenças. Um exemplo foi substituir os Estudos de Impacto Ambiental (EIA) não aprovados pela equipe técnica do Ibama por pareceres de consultores independentes, que foram realizados às pressas e sem discussão em audiências públicas.